segunda-feira, 18 de abril de 2011

Dentro da Vitrine.


Uma pequena história do menino de chapéu nouvelle vague.

Dentro da vitrine, aquela menina está.
Por desventura do destino, ou por falta de sorte, aquela sorte em que Woody Allen tanto diz que é essencial para o acaso de nossas vidas que nesse caso não foi o meu acaso. Ela entrou.

Eu disse pra ela que entraria e sentiria feliz.
Ela sempre me perguntava o porquê de eu não entrar, de sempre estar vestido da mesma maneira, de nunca tirar meu chapéu nouvelle vague, de sempre ter as mesmas opiniões, de viver nessa vida preto e branco...
Eu dizia que era pra não ser feliz dentro da vitrine.
- De que importa entrar ou não na vitrine? Não se é feliz lá dentro? Não é isso que importa a tantos outros?  Entrarei lá e quero que perca as chaves e nunca me tire, entendido? Melhor! Te darei as chaves pra um dia, então, você mudar de idéia entrar e me fazer companhia. Dizia ela.
Então, ela entrou, virei um espectador da vitrine, como se ela fosse uma tela de cinema, como forma farsante de um teatro dentro da vitrine.
Comprava pão e aproveitava pra acompanhar de perto como estava à felicidade dela dentro da vitrine.
Vi ela aprender tocar violão, a fazer cinema, conhecer outros rapazes sem chapéu nouvelle vague, vi ela dançar de olhos fechados ao som de ‘my body is a cage’ apesar de ser triste a canção ela sorria, ela sorria como se fosse algo bom.
Desisti de acompanhar sua felicidade dentro da vitrine, desisti de vê-la dentro daquela tela de cinema de um jeito teatral.
Ela se tornou como todos, menos como sou.
Perdi as chaves.
E deixei a menina ser feliz dentro da vitrine.

5 comentários:

  1. òtimo, Roberta! ^^

    posso fazer uma 'correçãozinha'? rsrs
    "Ela sempre me perguntava o porquê de eu não entrar, de sempre estAR vestido da mesma maneira...". acho que é isso!

    Abração, menina! ;)

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  2. Opa, já fiz a correção.
    Obrigada!

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  3. Gostei! Muito bom, levarem um pouco de cultura francesa ao Blog de vocês. Relembrando-nos desse movimento que foi tão significativo ao cinema francês, que foi assim que surgiu essa expressão pra os filmes que eram mais interpretados por jovens, em discórdia com padrões previamente estabelecidos pelo o comercial. Parabéns!

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  4. Sempre tem cultura francesa aqui no blog, apesar de não ter um Garrel tem um Gainsboug.
    Mas, meu texto tem um mesclado das coisas dos quai eu aprecio.
    Não quis falar da nouvelle vague, que foi um movimento artistico latente do cinema.
    Quis expressar mais o existencialismo que existe nele.
    No meu texto tem influências do Woody, da Nouvelle e do Chico e isso é nitido.
    Obrigada Ebson, pelo comentário.

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  5. "Quis expressar mais o existencialismo que existe nele.
    No meu texto tem influências do Woody, da Nouvelle e do Chico e isso é nítido."
    Exatamente, Roberta! Belíssimo texto e encantadoras referências.

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