quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Do olhar ao ver a flor

"E tudo fica mais verde
Vim te ver como um bem-te-vi"


     O que aconteceu ontem, já não importa, e não importa porque não há mais recordações de ontem. Não por não conseguir lembrar-se de absolutamente nada: é que não havia o que lembrar, porque a menor lembrança coincidia com o que vivia no exato momento. Pra quê gastar tempo com mais uma coisa que servirá apenas para se repetir no dia seguinte?
     Dormir e acordar, aparentemente, no mesmo dia, à mesma hora. Passos certos, a mesma mão que ajeita o cabelo bagunçado ao se levantar, até os mesmos bocejos de quem queria “só mais cinco minutinhos”.

     Segurança e liberdade só se unem num determinado ponto, a fim de haver um equilíbrio. Mas se erra o ponto, só se tem uma das duas. A liberdade tem seu preço, a segurança é mais barata. No fim, fica difícil saber, só analisando o produto, qual compensa levar.
     Viver, e saber exatamente como será o dia seguinte. A segurança tão almejada cresce mais e sufoca a liberdade, que precisa de mais ar pra poder sobreviver. O preço está cada vez mais caro, mas se está pagando barato, a fim de ver até onde é possível levar essa situação.
     A verdade, é que se sente cada vez mais a alma aprisionada, assim como o pensamento. Ora, é como passear sempre pelos mesmos lugares: as mesmas paisagens, as mesmas pessoas, o mesmo clima e as mesmas conversas; logo, logo enjoa. O pensamento só se liberta quando não está mais enjoado, e isso só é possível com um pouco mais de vida.
     Não basta ter duas vidas. Elas pouco se diferem. No fundo, a monotonia de uma e o cansaço da outra geram as mesmas dores no corpo, as mesmas costas doloridas e a mesma dor de cabeça.
     A vida verde amadurece, mas só há vida se as sementes da liberdade e da segurança forem plantadas juntas.
     A liberdade dá asas e a segurança, raízes; a liberdade dá a copa flexível e a segurança, o tronco rígido; e, assim, a árvore fica em seu devido lugar, sem impedir, no entanto, que o vento balance seus galhos e suas folhas e deixe cair aquilo que não lhe faz bem.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Um encontro com "a louca da casa"

          Uma cidade. Uma cidade nova.
          Resolveu, então, pôr os pés fora de casa.
          Havia uma faixa que lhe dava as boas vindas: “Bem-vinda à vida”
          Era nova na cidade, não sabia bem para onde caminhava, mas via aquela multidão que seguia numa linha reta, no meio da rua. Ninguém na calçada. Todos no meio da rua. Como se atrevesse a subir a calçada e por ela seguir aquelas pessoas, decerto foi olhada estranha; seu ato, em contradição ao dos demais, despertou certo preconceito: “Que faz essa estranha que não caminha conosco? Não sabe ela que a vida é aqui? Que é meio da rua?”
          É certo que não andavam todos juntos. Havia grupos, havia disputas entre alguns, havia disputas entre si; havia gente: cada qual com seus anseios, com seus afetos, com suas ambições. Havia gente parecida, havia gente diferente: havia gente.
          Se não quisesse ser discriminada, ela que tratasse de fazer suas escolhas: de quem vai estar perto? Quem serão suas companhias? É certo que as boas vindas foram dadas por algumas dessas pessoas, mas estas também estão misturadas naquele meio da rua, onde encontraram pessoas parecidas, com quem estabeleceram laços e afinidades. Suas escolhas.
          Ainda acanhada, permaneceu mais um pouco na calçada, mas já no meio-fio.
          Surpreende-se quando vê um carro indo com toda velocidade em direção àquela gente. Algumas delas também perceberam logo. No entanto, viu o quão indecisas ficavam quando tinham que decidir a calçada para a qual iriam, a fim de salvarem suas vidas, ou pelo menos de se livrarem de um acidente que deixaria gravíssimas sequelas. Algumas teriam ficado mais tempo, sem sequer perceberem que havia o tal carro, se ela não tivesse gritado e feito alarme, e improvisaram uma saída, decidiram pela calçada que foram por impulso (nem sabem se, naquelas circunstâncias, fizeram a escolha certa). Outras, permaneceram no meio da rua, ainda que tivessem escutado o grito: ou não acreditavam que havia um carro, ou demoraram demais para escolher a calçada – E a escolha da calçada era tão importante a ponto de alguém perder sua vida por causa disso? É que na escolha da calçada deve ser levado em conta desde o espaço até o material de que é feito o chão. Todas apresentam prós e contras, nenhuma é perfeita: há sempre um buraco, ou um material que machuca o pé, ou é tanta gente se refugiando naquela calçada que você quase poderia cair. – Não salvaram suas vidas, e seus corpos lá ficavam. No entanto, a caminhada não podia cessar. - Às vezes, um ou outro resolvia voltar e tentar ajudar; às vezes era feliz na ajuda, porque, afinal, nem todos morriam num caso semelhante; ainda, da vítima, havia uma respiração fraca e um batimento quase imperceptível do coração. – Nem todos apresentam um bom reflexo, ou seja, uma facilidade para se desviar de um carro. Às vezes, mesmo na fuga, poderiam cair e se machucar um pouco: mas... melhor que perder a vida ou adquirir profundas cicatrizes.
          Todos voltavam para o meio da rua. Estariam loucos? Não viram o que aconteceu àqueles infelizes que não saíram de lá? Por que voltam? Por que não ficam na calçada?
          É que a vida é lá! A vida é no meio da rua! Não havia razão para permanecer na calçada. E sua hora estava chegando. Não poderia ficar o tempo todo se refugiando na calçada. E, além disso, a calçada também poderia oferecer um perigo. Estava na hora de ela saber que a vida é lá, é lá no meio da rua, com todas aquelas pessoas.
          Não teve escolha: quando deu por si, já estava lá, na vida. E, lá, teve que ficar.
Caminhava com toda aquela gente, caminhava não sabia pra onde. O que não podia era ficar parada. Por isso, caminhava.
          Realmente, a vida era lá; enfim percebia.
          No início da sua estada na vida, gostava de ficar bem no meio da rua. Quando vinha um carro, era uma das últimas a sair de lá. Desafiava a própria sorte. No último instante se desviava, e corria para a calçada que já havia escolhido com antecedência. Era só para mostrar que havia uma rapidez invejável nas suas decisões. E, de certa forma, gostava disso.
          No entanto, percebeu que essa rotina de viver, fazer coisas importantes, tentar ter alguma importância, fazer seu nome, ter sucesso e, além de tudo isso e mais, ainda ficar atenta para os possíveis carros que aparecerem era uma tarefa muito irritante.
          Aguentava, porque no caminho havia muita coisa legal, muita coisa que valia a pena conhecer, vivenciar; havia sempre pessoas para conhecer, para acrescentar aos seus afetos e suas companhias... havia ainda muita vida pela frente! E agüentava somente por causa disso, e “isso” era uma razão que só tinha quando olhava para aquela estrada com otimismo.
          Já cansava. Parecia que tudo naquela estrada se repetia. Parecia que tudo era parafraseado. Quem arquitetou aquela cidade, no final, estava perdendo a inspiração. Aquela rua não acabava, não teria um fim conhecido. As coisas se repetiam, mas, assim como aconteceu com ela, pareciam novas para aquelas pessoas que tinham acabado de entrar naquela caminhada.
          Enfim, cansava. Parecia que quanto mais caminhava, mais carros apareciam. Às vezes nem eram carros, podiam ser desde caminhões (que faziam um estrago maior) até bicicletas (que ainda podiam deixar alguns, menos atentos, lesionados).
          Mais um carro, e desvio. As calçadas mudavam constantemente, e, por isso, ninguém poderia já saber de cor qual iria escolher. E era sempre: escolhas, escolhas, escolhas. Um “Ou isto ou aquilo?” constante da consagrada poetisa.
          Já cansada. Já cansou. Ela era fraca: não comia todo o feijão que lhe botavam no prato.
          Mais um carro, e desvio. Mais um carro, e desvio. Mais um carro... e desiste.


 ("... há pouco tempo, passou por mim um sopro que infelizmente não tive tempo de captar, pois lembro que me senti impulsionado a começar algo. Depois tudo se dissolveu.") - Julio Ramón Ribeyro // citação encontrada no livro "A louca da casa" de Rosa Montero

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Parecido com essa estação


Sonhei muito, sonhei tudo, sonhei bom. Sonhei tanto que nem sei, ou esqueci onde terminou o sonho no momento em que acordei.  

Eu senti, eu vivi de tão longe - não sei se só espaço ou, também, tempo separava. Mas vivi o que será eternizado por sua “não acontecência”.

Eu não lembro uma palavra. Eu não lembro o menor gesto. Eu só me lembro da claridade de um olhar que encontrava o meu. Certeiro. Ou me enganava, minha miopia.

Mas acreditava e duvidava, ao mesmo tempo. Não podia.

Eu vivi. Um sonho realizado num sonho. De um aperto de mãos que nunca se tocaram. De um abraço de braços que nunca chegaram perto.

Entre os quais, de verdade, existia apenas olhares que denunciavam um nada existente.
Ou um “qualquer coisa” que ninguém via. Ou o que nenhum, sequer, entendia.

Coincidência? Eu não sei se é a palavra certa. Que palavra pode expressar algo que acontece no subconsciente e que, meio sem entender, se encaixa na vida de uma forma que data comemorativa ou números - a eles, antes tinha sido dado outro significado - alertam o que pode, finalmente, fazer sentido? (Como se eu fosse minha cigana, e minha mão - que é esse meu "eu" que observa e tenta relacionar fatos de modo a ser coerente - e minha mão denunciasse um futuro que vivi, e num futuro mais além, que corresponde ao presente, é que percebo e me dou conta de que esse futuro passado e vivido é um futuro que ainda está por vir, por estar sujeito a interpretações nunca dadas e a consequências ainda mais futuras do que as que causa no futuro mais além que corresponde ao presente.) Nada, nada é coincidência; e nada tá escrito. Há, no máximo, eu esboço mal feito, que a gente, que tem a pena, tem que aperfeiçoar, e marcar bem qualquer traço. Seja bom, seja ruim, vale mais a folha mais manchada: o traço forte que foi apagado não será jamais refeito.




Dedicado ao meu personagem que morre, não morre e volta a dar trabalho. Um personagem cujo óbito Deus esqueceu de determinar.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Pra encontrar a mais justa adequação, tudo métrica e rima e nunca dor.

Nunca exijo das minhas palavras que elas estejam sempre saindo de mim, deixo que se libertem quando bem quiserem, quando acharem que o momento é propício. Entretanto, aos poucos, eu tenho tirado delas essa liberdade, essa autonomia, esse poder de escolha, convenço-as de que o momento nunca é propício. Nem este está sendo. O meu pássaro azul, como o de Bukowski, só sai à noite, enquanto todos dormem, e, por essa razão, ninguém vê, mas ele existe, e eu não o deixo morrer, ou eu morro também.

Estou focada demais, e enxergo somente a minha frente. Quero alcançar o horizonte, e ir mais além. E vejo só a minha frente. Sem olhar para os lados. Estou numa estrada em que a cabeça deve estar sempre erguida e não pode se distrair, ou eu posso me perder (é o que reza a hipocrisia e a coragem do medroso que quer pôr medo em mim). Mas estou tão focada que me perco. É como caminhar sem olhar pro chão e cair num buraco.

À medida que caminho, vou alcançando e avistando outros horizontes e outras ambições, e posso estar (e por que não?) dando voltas e mais voltas sem alcançar o verdadeiro objetivo, que não sei qual é. E saberia se, por um momento, me perdesse desse foco, e me distraísse, e descobrisse. Mas, aí, vem a vida com suas mãos invisíveis endireitar-me a coluna e a cabeça, se eu quero cair ou me desviar. Não a vida, é verdade, mas a realidade que estou vivendo. Realidade que põe medo, mas que não me permite chorar. Que me apresenta alternativas, e me diz simplesmente “Escolhe”. Que me dá perguntas, e não me dá chance de buscar um esclarecimento. Que me dá armas, e não me deixa me defender. Que me dá um caminho, e não me dá um norte. Que me dá ideias e que me cala a boca. Tirando, assim, a minha liberdade, da mesma forma que eu tiro das minhas palavras. Não passa de um reflexo.

Quanto mais eu foco, mais eu me perco, e mais eu me distraio em pensamento, porque ambiciono uma liberdade que a própria realidade me fez tirar de mim. Fiz um compromisso comigo e penhorei minha liberdade.

Quanta vida perco se não me distraio! Se não busco outras fontes! E minha liberdade em jogo...

Danço tango a passos de samba. Exponho ideias à voz de mudo. E vivo à maneira de.

sábado, 17 de dezembro de 2011

Uma pequena história sobre Canções de Apartamento.


Eis que bati na porta de um apartamento em Botafogo era  16:00 hs da tarde de metade de um ano chamado dois mil e onze.
Quem atendeu foi um menino chamado Cícero e logo me fez ter lembranças de uma infância nos bairros do Rio de Janeiro, precisamente o Centro da Cidade.
Verdade é que foi uma explosão dentro de um ser

Ele contou sobre...

“Cecília que saiu com seus balões em um mundo com pessoas de algodão para colorir e voar. Encontrou até o João com seu pé de feijão e perguntou se ele tinha um barco,como ele não tinha,  João resolveu ir arrumar as suas gavetas.  
Dentro de um apartamento fez um ensaio sobre ela e trocaram confissões pelo interfone no sétimo andar.
 Contaram sobre o caos de carnaval na Av. Rio Branco e dos tempos de pipa em que os vagalumes cegos não enxergavam nem sequer um ponto cego.

Ela era um sonho bom.
Ele queria falar sobre o disco do Tom Jobim.
Ela queria contar sobre seu apelido novo.
Ele não sabia se gostava de café com açúcar ou adoçante.

João lembrou dos Balões de Cecília, e disse: Ah, Dindi, seus balões cuidam do seu coração e eu odeio despedidas.
Mas, eu tenho que ir embora porque, o  dia vai raiar pra gente se inventar de novo.”


E foi assim que eu conheci um dos melhores interpretes do novo cenário da música carioca e foi naquela tarde de dois mil e onze que ouvi  uma voz doce e solitária ecoando sobre todos os cômodos de sentimentos.

Uma pequena história sobre Canções de Apartamento de Cícero Rosa Lins.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Clarice.

Clarice Lispector Para Poucos.
É assim que a vejo, por mais que sua imagem ande tumultuada e muitas vezes com frases e textos que nem são de sua autoria. Esse é o século XXI da febre de  pseudos.  Muitos autores sendo manchados pela incoveniência usada nas palavras em Status de Redes Sociais. O Que muitas vezes faz Millôr, Clarice, Caio, Leminski e tantos outros, de escritores a piadas. Existe um problema nacional do mal uso da literatura.

Pois bem, voltemos ao que importa.
Hoje fazem 31 anos sem Clarice, brasileira, pernambucana e misteriosa.
Amanhã fará 91 anos de idade.
Clarice era um personagem vivo, uma persona, que não largava nem mesmo no leito de sua morte ao bravejar  pra enfermeira que ela havia matado seu personagem. Esse tal personagem nunca morreu. Continua viva na Macabea oca de pedra, Naquela que como Kafka se tranforma em sua ilúcida metamorfose, na Lori e na sua paixão silenciosa. Citei essas três mulheres de Clarice, porque foram as que  marcaram-me com sua totalidade de vivência.
Eu, comecei a ler Clarice cedo, comecei a ter um amor inatingível por ela.
Torno a dizer que é algo sobrehumano.
Em cada livro seu, respiro o ar de seus cigarros e os movimentos de seus dedos em suas inspirações.
Proporcinando uma vida na dor.

Hoje acordei pensativa, com o pensamento basicamente nela, cansada porém sem tristezas, como dizia ela.
Hoje eu acordei pra imaginar como seria se ela estivesse viva, como seria suas lágrimas, como seria seus risos com seus amigos, como seriam os seus cansaços, como seria ela sentada com sua máquina de escrever,  se ela estaria com suas unhas pintadas de vermelha, bebendo coca-cola, comendo bolinhos, se esqueceria em seu cochilo o cigarro acesso, se estaria com seus olhos nitidos pra alma de outrem . Eu não sei como seria hoje, eu não sei.
Nessa mente pensante, hoje e por um ad infinitum, essa seria minha Clarice.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Quando o sol bate os olhos de quem acaba de acordar

Essa mania de se basear no meio comum é o que destrói todo relacionamento individual, inclusive os prefixados por “auto-“. Nunca dá certo, e é por isso que se vê tanta desgraça. Nós pensamos que inovamos o que é clichê com a fórmula que todo mundo usa... e nunca funciona. Não tentamos mudar, pelo simples fato que é ir de encontro aos pensamentos que reinam em cada geração, e simplesmente abrimos a mente e empurramos esses pensamentos, para que caibam mesmo na nossa vida, porque não queremos ser diferentes (e insistimos em dizer que somos sem nunca ter sido dado o primeiro passo. E eu não falo de aparências...). Mudar dói muito, espanta, assusta, mas o sofrimento dessa metamorfose dói menos que a condição de lagarta, enquanto há borboletas que reclamam de suas asas.

A partir de ontem, eu quero inovar regras e padrões. Ser ridícula e sentir-me confortável. Não quero mais lugares-comuns. “É preciso fazer escândalo, é preciso romper”, mas, infelizmente, falta fôlego para alguns e força de vontade para outros, e a sociedade continua com essas ideias comuns que nunca, nunca funcionam na nossa vida individual, na nossa vida egoísta. Todos nós temos o direito de sermos um pouco egoístas. Cansei de ver pessoas se anulando de todo, às vezes até eu mesma. Uma mudança de verdade só tem base firme quando se inicia de dentro, porque, quando é o contrário, ela dificilmente chega ao núcleo denso (e essa frase é um clichê que eu enfeitei).

E isso justifica (não de todo) o meu tédio incessante que se intensifica quando acordo e volto a essa sociedade medíocre da qual eu faço parte e ajudo a torna-la mais tola ainda; mas tento juntar forças e fazer o meu escândalo, não como ato de rebeldia, mas sim como um medo de que mudanças se ausentem. Gosto de me surpreender e inovar, mas me baseando no passado, porque os combustíveis que nos movem são os mesmos: perguntas, curiosidades, ambições, concorrências... O que fazemos com eles é que têm que ser diferente. (que ninguém leia isso e ache que estou pedindo demais; entendo esse “diferente” como “não-fútil”)