quarta-feira, 2 de novembro de 2011

'Por trás, onde traz do sol nosso sonho de voar'


"É que eu sei que não adianta mesmo a gente chorar:
A mamãe não dá sobremesa"

Sob qualquer circunstância, nunca dava opinião, se é que tinha alguma plenamente formada. Não argumentava, porque se julgava sem voz altiva. Não criticava, porque não argumentava. Por mais que enriquecesse seu vocabulário, as palavras fugiam de si; talvez as palavras tivessem medo de serem usadas por ela, talvez tivessem medo de serem armas.
Como uma lagarta, fechava-se num casulo e a metamorfose parecia que nunca iria acontecer. Quaisquer mudanças não havia. Sempre a mesma, se transformando externamente e apenas isso. O casulo envelhecia e em algum momento não lhe serviria mais como abrigo. O tempo passava, e ela sempre se escondendo do mundo, escondendo suas opiniões, abrindo mão de grandes oportunidades, e esquivando-se, faceira, de quedas e obstáculos que lhe fariam crescer.
Escondia-se no seu casulo, e nenhuma mudança havia. Tão pequena, e tinha seu mundo, onde só ela cabia, de onde enxergava tudo e não participava de nada. Sempre espectadora da sua vida e da dos outros; só enxergava, e apenas isso.
Sua vida limitou-se a uma existência fútil. Não crescia, não mudava. Ansiava viver plenamente, mas, se tentava, o casulo ameaçava romper, e fora dele não era nada; não era sequer uma lagarta fora do casulo: era um nada.
Aguardava uma metamorfose que não sabia sequer se aconteceria. Essa lagarta que vos fala, não tem esperança de tornar-se borboleta.