quinta-feira, 16 de junho de 2011

Pra cantar a lua

Cansado da rotina sem graça que vivia sem ânimo, decidiu sair de casa, numa noite qualquer: só pra sair da rotina.

Entrou no primeiro bar que encontrou. Pediu cigarros e um uísque qualquer, porque não tinha costume de fazer isso.

E observou as pessoas ao seu lado: por um acaso todas resolveram sair de suas rotinas nesse exato dia e escolheram o mesmo bar que ele. Coincidência ou não, estavam ali. Alegres, sob o efeito do álcool ou realmente felizes: com seus amigos, namorados, um paquera ali.

E quis sair, pagou a conta e pôs-se a andar nas ruas. À noite mesmo porque já cansou de andar de dia, com aquele sol insistente queimando a pele, e porque o perigo talvez fosse maior. Se fosse pra ser assaltado: amém! Só não fosse morto: contradição seria morrer no instante que resolve ficar de bem... com quem? Consigo mesmo, talvez. E talvez gerasse uma corrente positiva por alguns dias entre as pessoas com quem convivia, e deixar a rotina menos estressante.

Cansou-se de gírias, de ver sempre os mesmos rostos, as mesmas falas, as mesmas manias, as mesmas preocupações, os mesmo diálogos, as mesmas obrigações.

Olhares curiosos lhe cercavam e ele, que desconfiava que fosse um livro aberto, não sabia que era estranho. Não sabia a opinião das pessoas acerca dele, e só de pensar nisso entrava num labirinto porque se dava conta que ele mesmo não tinha opinião própria sobre si.

Tudo o que fazia era refugiar-se num caderno ou computador e encher-se de palavras que talvez não fizessem o menor sentido pra outra pessoa: mas era seu refúgio.

E conseguia combinações lógicas com palavras e passou a esquecer os números que, então percebia, eram limitados.

Nenhuma alegria, nenhuma companhia, nenhuma surpresa: nada que o fizesse pensar diferente, em coisas diferentes. Ele se permitia? Não sabia... Como se faz isso? Como tornar-se bem aceito numa sociedade que não aceitava? Esse (“i”)mundo medíocre movido pela ambição.

O “seu” mundo era apenas um projeto ainda: nada de patrocínios pra conseguir tirá-lo do papel. O que fazia era se lamentar: ia pro quarto, trancava as portas e as janelas e se desmanchava num choro rouco e fraco, mas intenso.

E pensando nisso tudo, acordava com olheiras e sua rotina se repetia mais uma vez.

No fundo sabia que a culpa era sua: a rotina só lhe dava segurança, a sua, no entanto, por erro seu, tirou-lhe a liberdade.


* A lua aparentemente definha-se e cresce, definha-se e cresce. Tem fases, mas é a mesma.

**Esse texto não passa de um vômito do menor pessimismo que guardo em mim.