sábado, 7 de maio de 2011

Um bilhete com letras de garranchos.

Peço que na minha ausência.
Abra o guarda-chuva em dias chuvosos.
Não fique só quando estiver doente.
Não escute música pop e fique alegre com isso.
Que não seja preciso pentear os cabelos.
Acabe o café da garrafa térmica, várias vezes.
Leia aquele livro da Lispector repetidamente.
Coma ameixas vendo Los Abrazos Rotos.
Não ache que toda paixão é amor.
Fique com os olhos molhados no escuro.
Se embriague pouco com ópio e cigarros.
Tire dias para ficar só.
Ao me procurar, não diga ‘oi?’.
Também não diga, eu te amo praquela nas madrugadas.
Sinta saudades dos meus lábios avermelhados.
Veja aquela foto em preto e branco, que meus olhos te dizem algo.
Escute Werewolf antes de dormir.

Acordei um dia.
Cansada.
Você estava do outro lado da cama.
Contemplei teu rosto adormecido.
Deparei que já não me via em teus olhos.
Não pense que fui por aquela paixão cheia de efemeridades.
Fui porque quis. Porque era preciso.
Não te suporto assim.
Que saiba disso. Que saiba.

Escrevi esse bilhete, mas não foi eu que me afastei.
Resolvi sair por aquela porta que tantas vezes chegamos aos tropeços, tontos de risadas altas que incomodavam os vizinhos.
Diferentemente daquela música, o bilhete não é azul e tão pouco fui pra Bahia.
Não mudei de estado.
Esbarrar-nos-emos na Lapa ou em Botafogo, tanto faz.
Silenciar-me-ei para apenas não dizer:
Saudades.

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